VITÓRIA SUPER

Vitória | 2021

 

Como um colecionador entusiasta com o seu próprio acervo, reuni arquivos cotidianos através de retratos. São relatos diretos situados todos no mesmo plano em um espaço público acessível.
As pessoas aparecem em uma calçada na frente de um antigo supermercado inutilizado, Vitória Super.

O modo de conceber e executar o trabalho dependia da relação com o outro. Realidades diversas que transitam pela cidade. Expressões individuais com suas peculiaridades, traços e complexidades. Em momento algum eu sugeria uma atitude ou postura para as pessoas, apenas indicava a posição e o espaço para a composição do quadro. O olhar delas demonstravam serenidade e segurança. Do mesmo modo, reagiam de forma íntima diante da câmera. Ao fundo o trânsito trazia movimento ao retrato e as palavras Vitória Super confirmava a estima e o protagonismo da pessoa retratada.

O impulso que vinculou os retratos naquele espaço é a relação com o tempo, a fugacidade da vida cotidiana e a representação de um momento presente. O tempo como algo constante e ativo. Transformação inevitável de uma paisagem que não sei quanto tempo ainda vai durar.

Há nas fotografias um efeito de presença despertado pela legenda Vitória Super, unido ao processo de identificação com a própria cidade: Vitória. São retratos das pessoas que passam por aquele espaço em algum momento do dia. Eu não buscava questões objetivas a respeito da realidade delas, mas sim, a expressão singular dos seus rostos cheios de vida e personalidade. As pessoas transitavam a pé, cada uma com seu pensamento, sempre apressadas. Personagens que aparecem e desaparecem no horizonte urbano matizados de nostalgia. Grande parte das pessoas que encontrei, embora passassem por ali algumas vezes durante o dia, nunca haviam percebido as palavras do letreiro. Era o que me interessava. Apropriar de uma paisagem não percebida e construir algo a partir de um olhar que escapasse do cotidiano.

O letreiro abandonado, me provocava uma sensação de que as palavras Vitória e Super haviam sido esquecidas. Porém, ao mesmo tempo, junto com a presença das pessoas, possuíam uma força afirmativa e enigmática. O paradoxo visual provocado resulta em uma exaltação a força cotidiana das pessoas como forma de monumento erguido. Busquei retratar esse sentimento através dos seus rostos compostos de presença e vazio.

Todas essas pessoas são texturas da cidade, que compõem a sua identidade. Aquela paisagem irá desaparecer um dia. Como as histórias vivem mesmo depois da morte?